Rafa

Desliguei o celular para falar com ela.

-Oi

-Oi, aí que educada!

Ela tinha 21 anos, aparentava 30. Veio de Minas na coragem pegando carona na estrada mesmo.

-Você pode me ajudar? Estou meio doente, sabe?! Preciso comer alguma coisa. Tenho um medo de ficar doente.

Era magriinha. Tinha lápis nos olhos.

-Estou tão chateada.

-Porquê?

-Eu dormia com um cara aqui há 1 mês. Ali embaixo. Gostoso ele, nacudo menina! Mas, daí ele começou a  me maltratar, acredita?! Quero um homem de verdade, não uma pessoa que quer me maltratar. Falei pra ele parar com isso. Dei ele arrumou outra bicha, acredita?! Quero só ver essa bicha aí ajudar ele. Ajuda nada.

Ela tossia.

-Menina, você tem que passar num postinho viu. Olhar essa tosse e deixar esse boy de lado.

-Ai eu tenho um medo de ficar doente.

Entramos no mercado. Ela escolheu: 3 fandangos e 3 cocas pequenas.

-Moça, você me daria uma coisa?! Estou até com vergonha de pedir.

Ela pediu uma caixa de bombons. Antes de nos despedirmos ela repetiu: “tenho um medo de ficar doente”. Daí ela confidenciou baixinho, para ninguém ouvir:

-Eu tenho vergonha de falar, mas tenho O vírus. Daí dá medo ficar doente, porque mata né?! Rapidinho. Eu ainda não fui pegar os remédios, fiquei tão desanimada menina.

-Viado! Quer morrer?

-Não!

-Então vai logo no postinho pegar. Explica tudo lá pra eles!

– Melhor, né?! Ficar esquentando a cabeça com boy. Mas… é que eu tava gostando dele. Adorei os bombom! Tchau, brigada!

E foi embora.

(O boy não tinha o vírus, sempre usavam camisinha)

 

 

 

 

 

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